Mais de duas décadas após a morte de Kurt Cobain, Come As You Are e Smells Like Teen Spirit ainda soam como um hino da nossa geração. Em homenagem, listamos 5 razões para amarmos a maneira como Kurt Cobain era.
Dia 20 de fevereiro deste ano, Kurt teria completado 50 anos de idade. Dá pra imaginar aquele espírito jovem e revolucionário no corpo de um senhor? Talvez seja tão difícil porque dói ter de imaginar. Gostaríamos de poder ver.
Mais do que isso: gostaríamos que ele estivesse aqui para ver o mundo cada vez mais humano que a “sua” geração está lutando para construir. Um mundo com mais porquês e menos “sim senhor”. Com mais “quero ser” e menos “devo ser”. Com mais respeito e menos racismo, machismo e homofobia.
Quem sabe, hoje, Kurt se sentisse satisfeito pela fama que nunca quis ter. Graças a ela, suas palavras marcaram tão profundamente nossa geração. Vamos relembrar algumas delas?
Após o lançamento de Nevermind, Nirvana explodiu no cenário musical. O sucesso foi tanto, e chegou tão rápido, que os próprios músicos não souberam lidar. Especialmente Kurt.
Em entrevista ao portal Daily Beast, Dave Grohl explicou que, no começo, eles tiveram que aceitar algumas “condições” impostas pelo mercado da música, como desembolsar uma boa grana inicial em troca do sucesso, por exemplo. Kurt topou, dizendo que queria isso, mas Grohl disse que na verdade ele não queria. Kurt amava fazer música. O resto foi um preço a ser pago para viver disso.
Tanto que o sucesso foi o maior responsável pelo desequilíbrio emocional de Kurt. Ele desejava o anonimato, sentia dores por causa dos gritos dos shows e acabou preenchendo com drogas o vazio que a insatisfação criava. Ele vivia do que amava, mas não amava a vida que tinha.
A geração dos nossos pais aprendeu a trabalhar para sobreviver. A geração que Kurt formou aprendeu que sobreviver não é o bastante. Dinheiro não é o bastante. Fama não é o bastante. Aparência não é o bastante.
Kurt foi o maior exemplo de que é preciso encontrar sentido no que você vive. Se não, de que vale a pena viver?
Como falamos no post Como nunca ficávamos entediados nos anos 90, o grunge veio para quebrar o cenário morno e cansativo dos anos 80/90. Na época em que Nirvana ascendeu, as músicas mais rentáveis ainda eram coisas como Vanilla Ice. Pelo amor de Deus. Nevermind tomou as rádios e a MTV como um grito de libertação para as angústias que os jovens sufocavam na garganta.
O mundo não era doce igual ao pop ou superficial como as letras do Aerosmith. Faltava sentimento nas melodias e profundidade nas estrofes. Kurt não ficou esperando músicas melhores – foi lá e fez. Botou o dedo na ferida e quebrou tabus que nunca haviam sido questionados, não só no cenário musical, mas da sociedade como um todo.
Suas letras bateram de frente com um comodismo social tremendo. Enquanto as pessoas diziam “isso é errado”, Kurt (mesmo sem desejar isso) incitava os jovens a se impor contra as imposições. Nos gritos das suas músicas cheias de ideologia, uma geração inteira encontrou força para questionar o governo e os bons costumes da época.
A coragem de Kurt reverbera até hoje, cada vez que levantamos a voz para defender quem somos ou o que acreditamos.
“We have this conflict between good and evil and man and woman because there are people doing evil things to other people for no reason, and I just want to beat the shit out of them. That’s the bottom line. All I can do is scream into a microphone instead.” – Kurt Cobain, Come as You Are: The Story of Nirvana
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Se hoje a sociedade se choca vendo um homem de vestido, imagine na década de 90. Kurt não se importava. Saía na rua de vestido sim, só para incomodar a opinião pública. Não interessa se seria comercial ou não.
“I definitely feel closer to the feminine side of the human being than I do the male – or the American idea of what a male is supposed to be. Just watch a beer commercial and you’ll see what I mean.” – Kurt Cobain, revista Rolling Stone, 1992
Numa sociedade enraizada no machismo, Kurt falava abertamente sobre os problemas do patriarcado e da opressão sofrida pelas mulheres. Isso já soava estranho naquela época, vindo de um homem branco e hétero, mais ainda. Por trás da imagem “rebelde”, brilhava um ser humano sensível, despreocupado em soar feminino demais.
A despreocupação com a imagem comercial era tanta que Kurt enfrentou o maior tabu da época falando em defesa dos homossexuais. Declarou que, se fosse questão de escolha, seria homossexual só para incomodar alguns homofóbicos por aí (incluindo sua mãe).
“… I had a gay friend and then my mother wouldn’t allow me to be friends with him anymore because she’s homophobic. It was real devastating because finally I’d found a male friend who I actually hugged and was affectionate to and we talked about a lot of things.” – Kurt Cobain, Blank on Blank, 1993
Ser fã de Nirvana e machista, racista ou homofóbico, para Kurt, era inaceitável.
“At this point I have a request for our fans. If any of you in any way hate homosexuals, people of different color, or women, please do this one favor for us — leave us the fuck alone! Don’t come to our shows and don’t buy our records.” –Incesticide liner notes
Não é só pelo que o grunge significou. Não é só pelos gritos que libertaram ideias de uma geração inteira. Não é só pelas vezes que Kurt apontou o dedo para algo que estava errado na sociedade e deveria ser mudado. É porque a música era boa pra c*r*lh*.
Se alguém chegasse em você a qualquer momento e dissesse “cite o maior número de bandas que lembrar em um minuto”, APOSTO que a maior parte das pessoas se lembraria de Nirvana. Kurt Cobain mudou a história da música. Depois dele, o sonho de “ser músico” foi redimensionado. O número de bandas de garagem explodiu. Os acordes de Come As You Are ainda são alguns dos primeiros a serem dominados por quem está aprendendo guitarra.
Não importa quanto tempo fiquemos sem ouvir Nirvana, os primeiros segundos de cada música sempre chegam junto com uma onda de saudade. Porque nos lembram de quem fomos, de quem somos e de todas as boas memórias vividas na década de 90, quando descobrimos as razões para amarmos a maneira como Kurt Cobain era.
Memórias, memórias, memórias. Uma pena que hoje ele só viva em memórias.
Você foi jovem na década de 90? Ouviu Nirvana até o CD (na época era CD) riscar? Ficou arrasado quando soube da morte de Kurt? Tanto que se lembra até do que estava fazendo na hora? Acha que ele se orgulharia de nós como nos orgulhamos por ter divido o mundo com ele? Grite tudo aqui nos comentários!
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