Num mundo onde estar online é mais importante do que estar presente, é quase assustador pensar que a internet só passou a fazer parte da nossa vida nos anos 90 e que revolução digital já nem soa mais como um termo inovador.
É interessante notar como as gerações vivem essa fase de formas diferentes. Minha avó ainda fica maravilhada com “essa tal de internet”. Meus pais passaram por escolas e faculdades sem a ajuda, hoje imprescindível, do Google. Meu sobrinho e todos os seus amigos nem sabem o que é viver sem tecnologia. Já eu, que também tenho a vida dividida entre online/offline, ando pensativa sobre o quanto devo compartilhar nas redes sociais e quanto do meu tempo está sendo gasto em frente as telas.
Começamos esse processo de exposição virtual timidamente, naquela época em que tínhamos que esperar passar da meia noite para poder teclar no bate papo do UOL, onde ninguém era realmente quem dizia ser.
Nossa vida social começava então a ser transferida para o Orkut. Criávamos e participávamos de comunidades sem o menor sentido, mas que já mostravam ao mundo nossa personalidade. E os depoimentos? Quanta honra receber aquele “Te considero muito, conte sempre comigo!” de melhores amigos que hoje mal conhecemos.
Depois vieram as fotos de comida e atualizações de localização no Foursquare, para que pudéssemos gritar ao mundo o quê e onde estávamos jantando. São as demonstrações de status se tornando virtuais, sem que a gente perceba!
E se a vida pessoal gira hoje em torno do Facebook e Instagram, a profissional se vê estampada no Linkedin. E exatamente como na vida real, nos primeiro nos moldamos de acordo como queremos ser vistos em nosso círculo social e no segundo, assim como nos escritórios, nos mostramos formais e profissionais, compartilhando matérias motivadoras sobre como ser um bom líder ou como agir em entrevistas, enquanto rasgamos elogios aos colegas e ex-colegas de trabalho para manter o networking.
A série Black Mirror, disponível na Netflix, tem um episódio que critica diretamente essa corrida insana por likes. Embora no mundo fictício da personagem principal Lacie Pound a questão seja mostrada de forma um pouco exagerada, é preocupante ver que há muitas semelhanças com a vida real. A busca por aprovação e o medo do julgamento alheio, que na verdade sempre existiram, se tornam mais intensos agora, que nossa vida está a um clique de distância de qualquer pessoa.
Mas corro o risco de ser apenas saudosista ao dizer que a vida era melhor ou mais social antes da revolução digital. Não sei se as pessoas realmente conversavam mais olho no olho ou se simplesmente se entretinham com jornais como fazemos hoje com os celulares por exemplo.
Não quero de maneira nenhuma ser amarga com esse texto, tudo isso teve e ainda tem sua grande parcela de divertimento, afinal, as redes sociais são basicamente para entretenimento, certo?
Inclusive não faço parte do time que critica um feed só de bons momentos e fotos dos melhores ângulos. Acho que não há problema algum em compartilhar apenas felicidade! Não há no mundo ser humano 100% feliz, mas a internet também está bem longe de ser um espelho da realidade. A grande e delicada questão é que o expectador não se iluda com isso. Não compare sua vida, sua aparência e suas experiências com a de outros cyber-humanos.
Minha ideia é apenas gerar uma reflexão do quanto do real estamos transferindo para o virtual, porquê isso acontece sem percebermos, e quando nos damos conta é assustador ver como nos tornamos extremamente dependentes de estar sempre conectados!
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