Comportamento

Gravidez indesejada: precisamos falar do assunto de forma humanizada

Como o título mesmo traz, nós precisamos falar da gravidez indesejada de forma humanizada: o que é? o que fazer? como evitar? Nossa ideia é ter uma conversa aberta sobre o assunto e expor alguns fatos que são importantes.

Você já deve ter ouvido ou lido por aí, que caminhamos para um futuro com mais idosos do que crianças. Atualmente, já são 705 milhões de pessoas acima dos 65 anos, contra 680 milhões de crianças entre 0 a 4 anos.

Isso porque, nas últimas décadas, o Brasil e o mundo tiveram uma acelerada queda de fecundidade.

O papel da mulher na sociedade também evoluiu ao longo desse período, e todas estão mais empoderadas para decidir sobre suas próprias vidas. Com isso, é cada vez mais comum as mulheres declararem que não desejam ter filhos. ­­

O acesso a informação sobre métodos contraceptivos contribui para evitar uma gravidez indesejada, mas ainda assim ela pode acontecer. E é sobre isso que falaremos ao longo desse texto. Acompanhe!

Gravidez indesejada: o que fazer?

Vivemos em uma sociedade com princípios machistas, que culpa unicamente as mulheres por uma gravidez não planejada. As frases prontas costumam ser as mesmas: “engravidou porque quis!”, “quem manda não se cuidar?”, “por que teve relação sexual?”. Só que, além de não ser culpa da mulher, mesmo se prevenindo, uma gravidez indesejada por vir a acontecer.

Neste caso, ao descobrir uma gravidez indesejada é preciso manter a calma. Compartilhar o momento de angústia com o parceiro ou alguém de confiança é essencial para refletir e tomar a melhor decisão para o futuro.

Passando o primeiro momento de pânico, a ideia de ser mãe pode não parecer tão ruim assim, mas se mesmo calma a maternidade não é uma opção para a sua vida, é preciso agir com responsabilidade. Procurar um (a) ginecologista obstetra é fundamental para a saúde.

Considerar a adoção pode ser uma hipótese e nesse caso, o processo é feito através do Conselho Tutelar. Por ser uma decisão irreversível, serão avaliados os motivos pela entrega da criança e se a mãe não está apenas sofrendo um problema momentâneo. Mulheres com laudo de depressão pós-parto não podem entregar a criança para o orfanato.

É preciso a Declaração de Nascido Vivo da criança e é importante a total consciência de que os pais biológicos não podem interferir na vida dela, após a entrega para a adoção.

E o aborto, não seria a melhor opção para uma gravidez não desejada? Vamos discutir sobre esse tema polêmico a seguir.

Interromper a gestação

O aborto é considerado crime pelo Código Penal brasileiro. Para a mulher que aborta, a pena é de um a três anos de prisão, já para quem realiza o aborto a penalidade pode ser de até 10 anos. Existem apenas três casos em que o aborto no Brasil é legalizado: gravidez de risco à vida da mulher, gravidez vítima de estupro ou em casos em que o feto apresenta anencefalia (ausência ou má formação do sistema cerebral).

Imagem de Carol Rossetti

Mesmo sendo ilegal e polêmico, segundo o instituto americano IAG – Instituto Alan Guttmacher, que estuda o aborto no mundo, cerca de 1 milhão de mulheres fazem aborto no Brasil, todos os anos. Para aquelas que conseguem pagar alguns mil reais, o procedimento é minimamente seguro, já aquelas que não conseguem pagar, passam por toda precariedade do aborto clandestino.

Tanto as mulheres que já realizaram, quanto as que são a favor do aborto são vítimas de duros julgamentos sociais, já que a descriminalização do aborto é um assunto sempre polêmico, muitas vezes respaldado pela religião, e que costumam reduzir as mulheres a assassinas de crianças indefesas. Dificilmente o aborto é tratado como um problema de saúde pública.

Por mais desesperador que possa ser o momento da descoberta de uma gravidez indesejada, é muito importante pensar e agir de cabeça fria e prezar pela sua vida. Se automedicar para interromper a gestação ou procurar uma clínica de aborto clandestina pode colocar a vida da mulher em risco ou causar sequelas irreversíveis.

Informação é a melhor prevenção para evitar a gravidez indesejada

A abstinência sexual é o único método 100% efetivo para evitar uma gravidez indesejada. Mas para isso, quanto mais bem informada sobre sexualidade a mulher estiver, melhor será o método contraceptivo para a sua saúde e planejamento de vida. Existem diversos métodos contraceptivos e uma boa conversa com o/a ginecologista vai te ajudar a se prevenir melhor.

Para mulheres que não querem ter filhos, para as que querem engravidar em um período longo de anos ou para as que não já tem filhos e não querem mais, o ideal são os métodos contraceptivos de longo prazo, como o DIU (de cobre e hormonal), SIU ou Implante. As vantagens são que eles protegem por mais tempo, comparados aos contraceptivos de curto prazo, como o anticoncepcional, não dá para esquecer de usar, tem maior eficácia e podem ser reversíveis caso a mulher mude de ideia e decida engravidar algum dia.

O uso de preservativo também não deixa de ser fundamental para evitar gravidez e também a contaminação de DSTs.

Em casos de emergência, existe a pílula do dia seguinte, que quando tomada até 72 horas após a relação sexual, pode evitar uma gravidez indesejada.

Nem toda mulher quer sem mãe, e tudo bem!

Cada vez é mais comum as mulheres desejarem um padrão de vida que foge da maternidade.

Imagem de Carol Rossetti

No Reino Unido, existe a Geteway Women, uma organização que oferece suporte às mulheres sem filhos, reivindicando respeito da sociedade enraizada pela ideia machista de que “mulher nasceu para ser mãe”. As inglesas da organização criaram a sigla NoMo (NãoMães) para o movimento pela liberdade de escolha.

Para se ter uma ideia, no Reino Unido, 1 em cada 5 mulheres no Reino Unido com mais de 45 anos não tem filhos – um número muito maior do que a maioria das pessoas imagina. No vídeo abaixo, Jody Day, fundadora do Gateway Women, fala sobre o assunto de uma forma aberta e sem preconceito. Vale a pena assistir!

E não querer ser mãe é isso, uma escolha! Não quer dizer que a mulher não gosta de crianças, ou que ela terá uma vida incompleta e infeliz. Muito pelo contrário! Ela terá a vida que escolheu ter e nada pode ser mais realizador do que isso. Mulher não nasceu para ser mãe, na verdade, toda mulher pode e deve ser o que quiser!

A vida seria muito mais leve se existisse mais empatia e menos julgamento, não é?

Não importa qual seja a sua escolha, não deixe ninguém decidir a sua vida por você. Quando o momento for difícil, respire, encontre um apoio emocional e quando estiver calma, aja com a certeza de que escolheu o melhor para a sua vida.

Agora, eu te convido a compartilhar esse texto nas suas redes sociais, para que mais pessoas possam discutir sobre gravidez indesejada sem tratar ela como um tabu.

O post foi modificado em: 31 de outubro de 2019 11:26

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